Ser casado comigo deve ser complicado e conheço apenas duas mulheres que me conseguem aturar: a marida e a filhota. Todos os outros elementos do sexo feminino fogem de mim como o diabo da cruz. Nem a minha velhota tem pachorra para tanta parvoeira. Sou assim um Pinto da Costa da minha rua, só mesmo os ferrenhos é que me seguem.
Ao pé de mim o Shreck é um tipo engraçado e bem parecido. Quando a filhota se queixou que não arranjava namorado (ela tem 7 anos) e perante a minha oferta como voluntário, a resposta foi seca: "Não! Quero um que tenha um nariz normal".
Além disso, os cabelos que tinha na cabeça desapareceram, com a infeliz contrapartida de as minhas costas estarem cada vez mais parecidas com as do Tony Ramos. Quando estou na praia, já começei até a ouvir aquela piada muito original "então não tiras a t-shirt preta pá?".
Ser casado comigo deve ser ainda mais complicado, quando um dia, ao fim da tarde, se chega a casa e se anuncia – "Prepara as malas que pró mês que vem vamos embora".
- Ai que bom, de férias? – pergunta a marida.
- Não, pra trabalhar – respondi a medo.
- Ai sim? A fazer o quê? – o tom de voz a denotar irritação.
- Bem... Director Criativo... ganha-se bem... podem-se poupar uns cobres...
- Que bom, pra que sítio? – demonstrou interesse, os "cobres" parece que tinham amanssado o bicho.
- Bem... quer dizer... er, para o Médio Oriente.
Aqui fica o aviso de que nunca se deve dar uma notícia potencialmente desagradável a uma mulher que esteja a lavar a loiça – principalmente talheres – porque para além de ser doloroso ter um garfo espetado nas costas, vamos ter que levar com o discurso "fizeste-me partir o serviço de loiça da minha querida avózinha", para toda a eternidade.
Quando se anuncia à família e ao amigos uma decisão assim importante, obtêm-se, como seria de esperar, as reações mais diversas. Uns apoiam sim senhor, outros nem por isso (estão com problemas no carro e isso pode ser muito absorvente) e outros ainda – estes é que eu aprecio – balizados pelo seu conhecimento porque um dia viram um filme em que o Rambo foi ao Afeganistão salvar o querido Coronel, dão o seu conselho:
- Tu tem cuidado pá!
Tu tem cuidado. Pá? Tu viste os filmes todos do Steven Segal e só me sabes dizer "tu tem cuidado pá". E que tal ensinar como é que se desarma um homem-bomba, ou pior ainda, uma mulher-bomba.
Eu já vi mulheres bomba e sei que são perigosíssimas. Um tipo fica ali parado a babar-se de medo, incapaz de fazer um gesto que não seja obsceno. E no Médio Oriente um gesto obsceno, meu amigo, pode pagar-se obscenamente caro.
A filhota achou bem desde que houvessem gomas.