Eu confesso. Sou um empresário de trazer por casa, que decidiu investir num negócio fora de Portugal. A coisa corre mais ou menos bem e um dia recebo um convite da Embaixada Portuguesa na Regiao (vamos manter isto mais ou menos anónimo) para um jantar e cocktails. Os cocktails interessaram-me (qualquer Portugues gosta de bebida á borla) e lá fui entao conhecer o embaixador. Um jovem dinamico, ‘com vontade de mudar atitudes’ foi como foi apresentado por outros convivas que já tinham privado com o senhor.
Porreiro. Numa regiao (vamos manter isto mais ou menos anónimo) onde há tantas - sao mesmo muitas - oportunidades de negócio, é bom saber que Portugal está a acordar para o Médio Oriente (oh! Porra! Fugiu-me a boca prá verdade). Porreiro na mesma.
Por obra e graça de Allah acabei por ficar sentadito na mesma mesa do activo representante da República. Mesmo mesmo ao ladito dele. E, Portugal está perdido…
- Olá muito prazer, sou Fulano de Tal – apresenta-se o diplomata.
- Como está, o meu primeiro nome é de um dos apóstolos de Jesus e termina com aquilo a que se chama aos varredores de rua (vamos continuar a manter isto mais ou menos anónimo).
- Muito bem, é um nome muito Portugues. Sabe que a lingua Portuguesa é uma das razoes que me leva a estar aqui convosco. A defesa da nossa lingua é um dever de todos nós, blá, blá, blá… etc. e tal, mais blá, blá, blá.
Procurei conforto na minha primeira cerveja em alguns meses.
- Caro Apóstolo Varredor de Rua, já lhe dei o meu cartao?
- Er… nao… muito obrigado – desprevenido entreguei também o meu, enquanto reparava que o do embaixador estava todo escrito em Ingles. A defesa da lingua e da Portugalidade continuava em força com o endereço de email ‘fulanodetal@gmail.com’.
Depois observei melhor o dinamico jovem. Fez-me lembrar o meu avo, só que mais velho (e o meu avo já morreu). As costas ligeiramente curvadas, o casaco abotoado apenas no segundo botao e aquele ar de quem foi mordido por um zombie e que a qualquer momento se irá passar para o ‘outro lado’. Os outros convivas tinham razao: o retrato típico do jovem Portugues.
- Diga-me homónimo do Discipulo do Messias que varre ruas, já pensou na sua reforma?
- Quer dizer… ainda sou novo… er…
- Voce pode continuar a descontar em Portugal, sabia? Apesar de aqui nao se pagarem impostos, com uma pequena prestaçao mensal que voce envia para Portugal voce garante o seu futuro.
- Pois… talvez… senhor embaixador… a embaixada tem uma secçao comercial? É necessário para dar algum apoio aos empresários Portugueses na regiao…
- Sabe caro Varredor, nós temos um consul honorário que trata desses assuntos mas, infelizmente, ele nao me atende os telefonemas já lá vai um ano. Uma maçada.
… - a cerveja acabou e nao tinha onde afogar as mágoas.
- Temos infelizmente, caro Varredor, uma pequena embaixada e esses luxos sao dispendiosos.
- Bom… nesse caso, permita-me que ofereça as instalaçoes da minha empresa para estabelecer (com todas as despesas pagas) uma secçao do consulado.
- Excelente ideia caro Messias!! Vamos pensar muito a sério nisso. E quanto a máquinas de escrever, temos nós que levar ou voce pode disponibilizar alguma?
- Bem… nós trabalhamos com computadores… máqui… já nao…
- Óptimo! Agora há aquelas coisas pequenitas que se levam para todo o lado com a informaçao e os ficheiros… Utube…
- USB?
- ISSO! Já agora o papel prá máquina das fotocópias, voce encarrega-se disso?
Fugi. Antes de sair ainda ouvi um discurso sobre a riqueza cultural de Portugal e a falta dela nos Países da regiao. Recebi também uma palmada nas costas e um ‘Vamos Trabalhar’ para terminar. Na saída cobraram-me 40 euros pelo jantar e a cerveja.
Um grande ‘vamos trabalhar’ pra voces também.